SUPER RANDONNEUR CHALLENGE 1500 KM

Pela primeira vez no Brasil, o Super Randonneur Challenge é o desafio de concluir as quatro distancias da Série Super Randonneur (200, 300, 400 e 600 kms) na sequencia de uma pra outra com pouco tempo pra recuperação, chamada pelo mundo afora de Hell Week (Semana Infernal). Em outros países a série é feita em uma semana, no Brasil o Randoneiro Cristal organizou pra fazer em apenas cinco dias, se tornando a série mais rápida do mundo. O Helio responsável pelo Clube, planejou toda a série, de forma que o total de 1500 kms pudesse ser concluída na velocidade média de um LRM de 1500 km que é aproximadamente 13 km/h, porem como são Brevets distintos, a velocidade media mínima a ser cumprida é de 15km/h em cada BRM. Depois de concluir os 200 kms, foram 3 horas de intervalo para o de 300, 4 horas para o de 400 e 6 horas para o de 600, sempre obedecendo o tempo máximo de cada prova.

Eu não podeiria ficar fora desta, foi um desafio novo para mim, não saberia como meu corpo iria se comportar, tendo que parar pra um descanso obrigatório entre uma prova e outra. Quanto mais rápido terminar as provas mais tempo de descanso teria para a largada da prova seguinte, porem o desgaste seria maior. A minha estratégia foi adotar uma media confortável a ponto de não se desgastar muito, mas rápido o suficiente para terminar o quanto antes pra sobrar mais tempos para o descanso, meio contraditório, mas era justamente esse ponto de equilíbrio que eu busquei.

Etapa 1 – 200 km: Outra novidade foi pedalar no Planalto onde tem muitos falsos planos, na primeira etapa tivemos 2, um de aproximadamente 30 kms subindo com pouca inclinação até Cristalina e outro na volta de Luziania de aproximadamente 25 kms. Como a largada foi no primeiro minuto da temporada, exatamente a 00:01 do dia 01/11/2017, pedalamos a madrugada inteira, grande parte com neblina e como previsto pedalar os falsos planos intermináveis desgastou um pouco o psicológico, pois ainda, eram retas a perder de vista, foi falta de costume mesmo. Terminei o 200 na Cia do Cesar Pupo em pouco mais de 8:24 minutos sem maiores problemas e recebemos a primeira medalha dos 200 km.

Etapa 2 – 300 km: Apesar de ter tido mais de 8 horas de intervalo de um Brevet para o outro, dormi por pouco mais de uma hora somente. A largada foi as 16:30 do dia 01/11/2017, o Pupo já havia avisado que iria num ritmo mais lento, então a jornada iria ser solo. Desta vez o percurso era no sentido oposto ao do Brevet de 200. Fiquei entre o bloco dos “lideres” e o bloco maior que vinha mais atrás. Com 34 kms meu pneu furou, enquanto trocava a câmera fui alcançado rapidamente por todos os participantes, inclusive pelo Pupo que parou, perguntou se precisava de ajuda e seguiu após eu falar que estava tudo sob controle. Não gosto muito desta situação pois você fica por último e se acontecer algum imprevisto ninguém vai saber, troquei rapidamente a câmera e parti num ritmo mais forte a fim de alcançar um grupo que seguia na minha frente, em vão, no falso plano é bem difícil alcançar sozinho um grupo que normalmente segue trocando roda. Um carro surgiu e diminuiu a velociada, era o Carlos da organização que perguntou se estava tudo ok.

A minha estratégia de desgastar pouco tinha sido abolida naquele momento tentando alcançar o grupo a minha frente. Cheguei no PC1 em Campo Alegre anoitecendo, achando que estava bem atrasado em relação aos demais, mas quando cheguei, todos os atletas ainda estava no PC e disseram que não haviam chegado a muito tempo, então meu ritmo foi realmente forte até ali. Parti com os ponteiros, desta vez combinei eu e o Pupo que iríamos num ritmo confortável. O PC2 foi em Catalão, trecho mais difícil até aquele momento, ida e volta de Catalão no escuro, trecho com bastante subidas e descidas. Amanheceu o dia e de volta a Campo Alegre o desafio foi vencer o sono e o vento contra, dormimos um pouco no Centro de apoio ao usuário e depois seguimos até a chegada com o vento sempre frontal, foi bem desgastante essa etapa. Medalha suada a dos 300 km. Chegamos, tomamos uma jarra de suco, café da manhã e fomos dormir e descansar, desta vez o sono rendeu bastante, acordamos uma hora antes da largada para os 400 kms

Etapa 3 – 400 km:  Largada as 16:30 do dia 02/11/2017. O percurso era um trecho do 200, mas todo o de 300 com um bate e volta em Sesmaria. Sem muitas novidades, ritmo constante, o desafio era se manter alimentado, já que não haveria pontos de abastecimento durante a madrugada, em Campo Alegre o Carlos nos esperava no PC com alimentação para nos reabastecer.

Cristalina, Campo Alegre, Sesmaria, Catalão e volta pra chegada, desta vez a volta de Catalão foi em dia claro, eu gosto muito mais de pedalar a luz do dia, a noite fico tenso e entediado. De Campo Alegre até a chegada foi novamente com vento contra, é um trecho sem maiores dificuldades no percurso mas sempre tinha vento o que diminuía a media horária, mas no 400 veio o sol e calor no final, e pra complicar, no almoço o tempero nos deixou com bastante sede, eu, Pupo, Wilson, Max e Rangel, almoçamos juntos,  a água secou em pouco tempo, resolvemos eu e o Pupo, parar no MGO para abastecer de água. Sai pouco antes do Pupo que logo me alcançou, visualizamos o Max a frente que logo desapareceu, mas bem perto da chegada eis que o Max surgiu atrás da gente bastante desgastado, seguimos juntos até a chegada. Finalizada a parte inicial com 900 kms rodados, a mandala das medalhas começava a tomar corpo. Agora era descansar, dormir e partir para a ultima e mais longa etapa, a largada seria as 01:30 de 04/11/2017.

Etapa 4 – 600 km: Depois de um bom sono e descanso, era hora de largar pra principal etapa do desafio, era concluir os 600 kms e se tornar um dos primeiros Super Randonneurs da temporada 2018. Dos 11 inscritos que largaram na primeira etapa, éramos somente 6 “sobreviventes” 5 de São Paulo, Eu, Cesar Pupo, Max Fonseca, Paulo Saru, Wilson Poletti e o mineiro Leandro Rangel. Os primeiros 180 kms eram quase o mesmo percurso do 200, surpreendentemente, percorremos esses 180 com bastante tranquilidade, com um furo de pneu,  chegamos no PC2 para almoçar bastante confiantes, eu e o Pupo pedalamos juntos quase que o desafio inteiro, o mesmo ocorreu com o Wilson e o Max, o Saru se juntou a eles após a desistência da Meyre por motivos de contusão, incrível, mas no intervalo da última etapa a Meyre machucou o pé na porta do salão do Hotel. Partimos então eu e o Cesar para o PC3, o trecho até Ipameri era o único trecho do 600 que inda não conhecíamos dos outros Brevets, então era a incógnita, pois não sabíamos como seria o rendimento naquele trecho até Ipameri. Tínhamos quase tudo planejado, com o tempos que gastaríamos em cada trecho, menos Ipameri.

Quase no mesmo local do furo na segunda etapa furou o meu pneu novamente, era o terceiro furo meu no desafio todo, o Pupo havia furado duas vezes. Enquanto consertávamos passaram pela gente o trio dos outros “ paulistas”, na verdade o Max é paraense que vive em São Paulo. Consertamos e seguimos, logo avistamos o trio a nossa frente, estávamos num ritmo que iríamos alcançá-los, mas novamente furou, na troca perdemos mais uma câmera, fiquei com somente uma, preocupado o Pupo tentou ligar pro Helio pra ver com ele a possibilidade de levar mais câmeras para o PC3, não conseguimos contato naquela hora. Foi um baque na confiança, até brinquei com o Pupo, que diante da nossa confiança, Deus resolveu furar uns pneus para  gente baixar a nossa bola, mais a frente consegui enviar uma mensagem para o Helio e avisei que eu tinha um pneu novo no meu quarto, que se possível levasse o mesmo para o PC. Dali pra frente, até o PA em Campo Alegre não furou mais, encontramos com os trio no PA que também havia enfrentado problemas com furos.

Furos a parte, o Brevet estava sob controle, todos bem fisicamente, agora com um sol mais forte, confraternizamos no PA e seguimos os 5 para Ipameri, o Rangel estava para traz. O Clima era  de festa, batemos a marca de 1200 kms, com 89 horas, se fosse um LRM, teríamos concluido com êxito, dando sprints, atacando nas subidas rsrsrsrs, era só alegria, até percebermos que tínhamos errado na conta a distancia do PC por 14 kms, e que 14 kms viu… bastante pirambas, naquele momento o grupo de espalhou, e chegamos um a um no PC em Ipameri. Comemos um belo marmitex fornecido pela organização, suco de assai, descansamos por pouco tempo e retornamos para a estrada.

A tranquilidade ja não era a mesma, estávamos preocupados com o horário, pois demoramos mais que o previsto pra chegar no PC e o retorno daquele trecho iria demorar também, logo escureceu. No sobe e desce da estrada era incrível a nuvem de insetos que ocupava a estrada, víamos muitos insetos quando o farol dos carros surgiam no sentido oposto, era ajeitar os óculos e fechar a boca pra não engolir os insetos. A volta de Ipameri foi dura e cansativa, a BR 050 não chegava nunca, do lado oposto ao sentido que seguiríamos, vimos bastante relâmpagos, nada que preocupou, pois seguiríamos no outro sentido. Havíamos marcado um ponto para todos nos reunirmos novamente, chegamos bem cansados e descansamos até dormimos ali na beira da estrada mesmo, afinal estávamos dentro do horário previsto. Naquele momento faltava um PC virtual a uns 15 kms e depois era seguir pra Catalão, cerca de mais 200 km até a chegada. Quando chegamos no PC virtual, aquela chuva dos relâmpagos, desabou sobre nossas cabeças, rapidamente nos abrigamos numa área de descanso de um restaurante, seria bem perigoso continuarmos na estrada naquelas condições, resolvemos esperar a chuva passar enquanto isso dormiríamos um pouco mais. Só que a chuva não passava e só piorava, a “gordura” que tínhamos acumulado estava se queimando, com exceção do Wilson que dormia como uma pedra, os outros não conseguiam sucesso no sono, até que resolvemos todos nos abrigar dentro do banheiro, chamei a turma e expus a minha opinião e as opções que tínhamos, poderíamos seguir na chuva e correr alguns riscos ou queimar os resto da gordura de tempo que tínhamos, a maioria quis esperar, eu particularmente queria seguir, mas sozinho naquelas condições o risco seria ainda maior então voltei a tentar dormir. Quando bateu 4:00 resolvi levantar e seguir viagem, comecei a me preparar para me proteger do frio com a manta térmica e os outros, um a um foram levantando e me acompanharam nos preparativos, a chuva já era bem menos intensa, porem todos ainda muito apreensivos, mas estávamos no tempo ainda, tínhamos 13 horas pra fazer 200 km, ou seja, um Brevet de 200 a 15 de media, ainda no escuro o Saru parou pra trocar a bateria do farol e no retorno “atropelou” eu, o Pupo e o Max que esperávamos parado mais a frente, depois foi motivo de piadas, mas naquela hora achei que poderia ter danificado algumas das bikes o que comprometeria a conclusão do desafio, checamos tudo e seguimos, o dia amanheceu a chuva piorou, mas com dia claro tudo fica mais fácil.

Chegamos no PC encharcados, com fome e determinados a terminar. No PC demos noticias para o Helio, que nos deu noticia do Rangel, que logo chegou no PC e partiu antes da gente. A volta foi mais tranquila, aos poucos, um a um foi percebendo que estamos com tempo suficiente para terminar, o Wilson seguiu na frente e logo alcançou o Rangel, os demais seguiram juntos até perto do PA em Campo Alegre, o Max nos deixou pra trás e foi quando o pneu do Saru furou, ele não tinha mais câmeras, mas tinha reparo, ele não quis que eu e o Pupo ficássemos esperando pra seguir com ele, então seguimos, chegamos no PA, comemos alguma coisa e a boa noticia era que o vento não estaria contra, então era levar a bike pra chegada, me bateu um pouco de sono e seguimos nos arrastando em direção a chegada, faltando uns 40 kms, o Helio e o Carlos nos pararam no meio do caminho, queriam saber do Saru, nos falaram que o Saru consertou a câmera e estava vindo no pedal, eles queriam entregar mais uma câmera reserva pra ele.

Uma coisa muito legal ocorreu, o Saru estava com roda de perfil alto, precisava de câmeras com bico longo, o único que tinha era o Max e estava usando no pneu dele, o Helio parou o Max, eles trocaram de câmera e o Max cedeu a câmera com bico longo pra que fosse entregue ao Saru e a organização encontrou o Saru e entregou a câmera.

Logo o carro da organização passou pela gente, isso significava que o Saru estava bem perto, diminuímos mais ainda nosso ritmo, talvez o Saru nos alcançasse, os que estavam a nossa frente fez o mesmo, mas ninguém alcançou ninguém, mas acabamos chegando bem próximos um dos outros. Os seis que largaram para o 600 chegaram e se tornaram os primeiros Super Randonneurs da serie de 2018 do mundo e tb completaram a série mais rápida de que temos noticias.

Como prêmio, recebemos além da medalha de cada BRM, recebemos uma medalha comemorativa dos SRC 1500 kms e uma linda mandala onde acondicionamos as mesmas formando um lindo Troféu

Parabéns a todos, que tiveram a coragem de se inscrever especialmente para aqueles que concluíram a façanha

Parabéns ao Helio, pela coragem de organizar um evento desse porte e aqueles que de alguma forma ou outra ajudaram na realização do SRC.

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